terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Dialogo com a solidão

Eu disse a ela que se calasse mas ela continuava a falar: você esta sozinho (sozinho), onde estão seus amigos agora, onde esta sua família, você esta sozinho. Só eu fiquei aqui com você.
O quarto escuro, cortinas fechadas, e eu não estava sozinho, ela ainda estava lá. As horas passavam e ela era minha única companhia, dizendo o que eu não queria mais ouvir.
Diga-me Solidão, e você, como chegou onde está, como se tornou a companhia daqueles que não tem mais ninguém?
Mas ela apenas dizia, você está sozinho (sozinho), onde estão os outros agora?
Fala comigo então, que caminho devo tomar Solidão?
Só você pode escolher sair de onde está. Essa situação é para os mais fracos, os dignos de pena, mas é também para os mais fortes. Eu acompanhei os maiores gênios. Qual desses você é?
Um pobre coitado provavelmente minha amiga, digno de nada, nem mesmo de sua companhia. Eu respondi.
Se é o que pensa. Disse ela, e fez uma pausa. Mas um dos maiores que acompanhei disse o mesmo e é hoje lembrado com louvores a sua obra. Mais uma pausa. Mas isso, só o Tempo dirá.
Sim o Tempo, onde se encontra o sábio mais sábio que cura as feridas de amor? Eu perguntei.
Ele não esta longe, ate posso escuta-lo. Você não?
Não Solidão, pobres mortais como eu não escutam o Tempo.
Engana-se meu bom solitário, disse ela, são vocês os mortais que melhor escutam a voz desse que os imortais não temem e que nos fez invejar vossa feliz situação. Mal sabem você quanta sorte tem de poderem ouvir tão bem esse amigo.
Fez-se silencio por um longo tempo.
Solidão, eu chamei, você conhece a Morte?
Claro, ela respondeu, ela é imã e esposa do Tempo, juntos eles deram aos mortais a maior dadiva que todos podem deseja.
E como ela é? Eu perguntei.
Ele é linda, tão doce as vezes, e cruel em outras, mas sempre chega na hora certa, mesmo quando vocês não conseguem ver. Ela parou de falar por um tempo. Mas creio que ela não goste muito de mim.
Por quê? Perguntei.
Ela me tirou muitas de minhas mais agradáveis companhias, algumas de forma tão triste. Sabe, não é fácil ser a eu, não é fácil acompanhar um gênio quando ele cria sua obra prima na escuridão de um quarto. E ela vem tão doce e o arranca de mim quando menos espero. É o chamado do Tempo ou a própria consequencia da minha companhia.
É assim com todos Solidão?
Sim meu belo solitário, todos, mesmo os que me amam, no fim acabam nos braços da bela que vem cobrar as dividas do tempo. Ate mesmo você.
Depois disso eu apaguei, não pude mais responder.
Porque levou esse também minha irmã? Porque sempre tem de leva-los.
É assim que deve ser amada irmã, você bem o sabe, cada um de nos só faz o que nasceu para fazer. Seja mortal ou imortal. Nos temos uma missão, ate mesmo eu e você. Eu te amo minha irmã. Não me odeie pelo que sou.
Não te odeio querida irmã. Mas estou cansada de estar sozinha.





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2 comentários:

  1. Caramba! Sem palavras ...(paus...susppiro)continuo:-É tão triste esse texto. Show, muito bem escrito.

    Parabéns.

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  2. As pessoas sempre acham que sabem como nós somos. Ledo engano! Eu mesma me descubro a todo instante e digo, hoje aos 32 anos, que me conheço bastante e mesmo assim às vezes me pego fazendo alguma coisa que há tempos atrás eu acharia repugnante ou difícil de ser feita por mim.
    Descobri, com a vida e não pelos outros, que dentro de mim convivem a racional e a louca, a santa e a prostituta, a fada e a bruxa, a inocente e a calculista. Amanhã descobrirei outras faces deste poliedro que forma a minha personalidade.

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